sábado, 12 de março de 2011

Tendências na Cozinha

Não há como falar de tendência na cozinha, sem antes conhecer o passado e o caminho que ela percorreu até aqui. Há pouco mais de 400 anos, a cozinheira corria atrás da galinha que ciscava no terreiro e, depois de caçá-la, cuidava de matar, depenar e cortar o bicho. Aí acendia a fogueira, que ficava sob um telheiro rudimentar no quintal, apoiava o caldeirão sobre o fogo, se agachava e começava a cozinhar. Era assim que funcionavam as primeiras cozinhas brasileiras.
As transformações mais significativas, aquelas que mudariam radicalmente não só a arquitetura da cozinha como também o uso que se dava ao cômodo, ganharam força somente na segunda metade do século 19. Foi a partir dessa época que a cozinha começou a se parecer com o ambiente que conhecemos hoje. E exclusivamente nas residências da elite – o dinheiro do café, da borracha e do açúcar permitia que as novidades européias, oriundas da Revolução Industrial, começassem a viajar para o Brasil. Chegavam com muitos anos de atraso, mas chegavam.

Com a invenção da torneira, em 1800, e a construção da rede de abastecimento de água em domicílio, iniciada 76 anos depois, no Rio de Janeiro, o preparo dos alimentos se tornou uma prática mais asseada. Já não era necessário deixar a cozinha do lado de fora da casa. Havia ladrilhos hidráulicos laváveis para revestir o piso e até uma incipiente coleta de lixo, lançada em caráter experimental, no Rio, em 1885. Sem falar na geladeira, uma invenção que fez toda a diferença no dia-a-dia doméstico. Não chegava a ser um eletrodoméstico. “Eram armários de madeira, revestidos por dentro com cortiça e folha-de-flandes. Havia uma prateleira no alto, onde se apoiava a pedra de gelo (produzida em fábricas) comprada por assinatura , e uma canaleta que conduzia a água do degelo para um balde.

Nas primeiras décadas do século 20, deu-se outra enxurrada de novidades. Em 1901, o palácio do governo de São Paulo instalou o primeiro fogão a gás de que se tem notícia no Brasil. E a moda não custou a pegar, aposentando de vez os velhos fogões a lenha. “Eram importados e vendidos pelas próprias companhias de gás, que exploravam a iluminação pública”, conta. Em 1905, começou-se a produzir energia elétrica, a princípio para iluminação e fins industriais. Poucos anos depois, os americanos já conheciam a revolucionária geladeira elétrica, invenção que só desembarcou aqui em 1928. Nem de longe se parecia com as geladeiras atuais – bem pequenininha, ainda tinha boa parte do espaço interno ocupado pelo motor. Mas ninguém chiava. Era o começo de uma era de facilidades há muito sonhadas: liquidificador, batedeira, espremedor de frutas e torradeira logo vieram na carona.


A popularização dos eletrodomésticos gerou uma senhora transformação na arquitetura das residências brasileiras. A cozinha, que até o começo do século 20 era quente e desconfortável, sinônimo de árduo trabalho braçal, se tornou um ambiente mais fresco, cheiroso e convidativo. As donas-de-casa, que antes só entravam ali quando obrigadas, começaram a passar mais tempo ao redor do fogão. A década de 1950 é o símbolo da nova cozinha. Revestida de ladrilhos e azulejos, forrada de armários planejados, com portas e gavetas de laminado colorido, ela foi se tornando uma extensão da sala de estar. Nascia a copa-cozinha, uma tradição brasileira que sobreviveu por décadas, local preferido da família de classe média.

Nos últimos 20 anos, com a entrada efetiva da mulher no mercado de trabalho, com as inovações tecnológicas, com a falta de tempo para se preparar as refeições e os outros afazeres da casa, aliado ao custo crescente das empregadas domésticas, com a violência urbana, as cozinhas tiveram que mudar. Hoje tendem à parecer salas de refeições. Tudo muito limpo, clean e discreto. O pinduricalho está sumindo. Muita coisa está embutida atrás de painéis. Na onda do loft, as cozinhas estão diretamente integradas ao estar. Hoje, entrar na cozinha não é só obrigação. Entramos e ficamos por prazer. O patrão quis participar e virou Chef. Fazer algo na cozinha é para muitos um Hobby.

Portanto, a época é de ecletismo, e se encontra de tudo no mercado, acentuando a personalidade do cliente. Quem gosta de receber, vai optar por projetos integrados; quem tem talento para a culinária, vai investir, além de integração, em um espaço equipado; os de rotina agitada, precisam de projetos inteligentes; quem gosta de inovar, aposta em marcenaria arrojada e colorida. O fundamental para uma jovem solteira pode ser dispensável para o chefe de família. O custo também é eclético. Como a cozinha é o local da casa que contém maior número de equipamentos, dos mais diversos níveis de sofisticação, pode-se fazer cozinhas a partir de R$ 10 mil, e se chegar à cozinhas de R$ 500 mil ou mais. Por isso, antes de definir a sua cozinha, busque referências, pesquise em revistas, sites e lojas especializadas. Visualize no seu dia-a-dia, como uma cozinha lhe serviria melhor. A dinâmica da família, como ela funciona, deve ser a base do projeto. E, finalmente, passe isso tudo ao seu arquiteto, discuta com ele as melhores soluções, e tenha certeza que tudo terminará com um belo jantar de inauguração.


Referências: Flávio Pinho – www.história.abrir.com.br e Revista Casa & Ambiente nr.39

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